Blog escrita criativa

Ver um animal queimado é duro. O sofrimento em frente dos nossos olhos é demasiado. A primeira coisa que fazemos é medicar para as dores ou preparar uma sedação. Depois, limpar as feridas, desinfetar e colocar produtos cicatrizantes.

"Sem ter o meu paciente por perto, consigo esclarecer dúvidas e dizer se preciso efetivamente de o ver ou se basta levar um ou outro medicamento que não necessite de receita médica. Algo que saia fora destas diretrizes, de uma forma geral, vai contra o código deontológico e é, efetivamente, falta de profissionalismo."

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"Enrolada neste dia dourado deixo-me levar pelo quase adormecer que me sussurra repetidamente, num tom quase carinhoso: Hoje apertaste as beiças de um tigre."

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Novos casos e novas mortes. Vemos os casos em Itália, as mortes, a exaustão dos médicos e enfermeiros, o inferno que nunca mais acaba. Inspiro fundo com dificuldade e sinto um aperto no coração. Porém, racionalmente, lembro-me que os valores em Portugal continuam um pouco mais baixos que os previstos matematicamente. Pode ser que isso seja um bom sinal. Há que manter a esperança.

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"As primeiras 48 horas foram as mais complicadas. Medicada com metadona a cada 8 horas, anti-inflamatórios e forte antibioterapia, Peppa mantinha-se num estado de semi-consciência. Porém, aparentemente, parecia querer recuperar."

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“Caramba…”, começa uma voz sensata dentro de mim, “cresceste a desejar isto, moldaste toda a tua vida de forma a conseguires concretizar este sonho. E finalmente chegaste lá. Deixa-te de merdas emocionais. Finalmente és Veterinária. Aproveita!”

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"Fechaste os olhos com a cabeça aconchegada no meio das mantas. De repente, deixaste de te mover. Tranquilamente, via-te a partir."

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"Sinto que, enquanto médica veterinária, o meu papel é avaliar o estado clínico do animal, acompanhá-lo e dar as opções possíveis para o melhor do meu paciente. Infelizmente, por vezes, a eutanásia faz parte dessas opções."

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"Quem é que ditou aquilo que é conveniente ou não mostrar? Quem decidiu que, perante a morte de um animal, somente é permitido chorar em casa ou soltar, no máximo, entre 20 a 30 lágrimas por minuto e que mais do que isso é estranho e inapropriado? Quem somos nós para julgar a dor dos outros e a maneira como a expressam?"

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"Ao sucumbir na nostalgia, partilho o texto que escrevi há três anos atrás para os meus amigos, quando tivemos que nos despedir da casa de estudantes em Lisboa, onde partilhamos intensamente cada momento."

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"A Medicina Veterinária é um pau de dois bicos: tanto tem de belo e maravilhoso, como de feio e infernal."

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