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O Jogo da Glória. O Jogo da Vida...

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            Atirou os dados e sorriu. Conseguiu um número mais elevado que qualquer outro jogador, cabia-lhe a ele iniciar o jogo. Acenou um adeus aos outros espermatozóides e entrou no oócito. Voltou a atirar os dados e contou os pontos. Andou 9 casas para a frente e nasceu. Agora no mundo, o Jogo da Glória foi-se tornando cada vez mais interessante. Quando saíam números ímpares calhava em casas onde sentia fome, quando saíam os pares, resmungava que queria dormir. Uns meses depois, para além de atirar os dados, podia decidir se queria seguir para a esquerda ou para a direita.  À medida que crescia, o número de caminhos que podia escolher ramificou-se, criando a ilusão de decisão. As regras mantinham-se. Podia atirar os dados e avançar para onde queria. No entanto, o número que saía no dado é sempre aleatório e o caminho escolhido já está mais que traçado. Assim se vai avançando pela vida. Os dados voam. Quatro bolinhas. Pode escolher se continua a estudar, ou se vai trabalhar. Duas bolinhas. Agora é a altura para decidir entre 4 cursos superiores. Atira os dados novamente. Parece que chegou o momento de comprar o fato para a entrevista. Número um. Sai a carta do casamento. Três bolinhas. Um aborto e dois irmãos. Avança mais 5 casas e nascem os netos. É então que, subitamente, as ramificações começam a diminuir. Perto do fim do jogo sai a carta da reforma. Agora apenas pode escolher novamente entre a esquerda e a direita. Alguns anos depois, olha para os dados, tranquilo a descansar na cama. Quando é par tem sono, quando é ímpar pede bolachas maria com leite. Atira os dados uma última vez e suspira. Foram muitos anos a jogar, está na altura de avançar para a última casa e fechar o tabuleiro.

14/12/2019

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