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TENTATIVA DE ESCAPE

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         Inicialmente não sabia o que sentia ao certo. Tinha o coração apertado, as lágrimas encravadas na garganta e prendia-me a incapacidade de me levantar do sofá. Agarrada às emoções negativas, não conseguia descobrir ao certo o que se passava na minha alma. A pairar num céu de nuvens pretas, só me queria libertar. A origem de tudo eu conhecia bem. Bem de mais. Mas que tipo de veneno o meu coração bombeava para as artérias? Foi então que decidi viajar numa introspeção. Um turbilhão de palavras explodiu no cérebro. Demasiado negativas. Mas qual delas era a certa? Qual delas era a mãe de todas as outras? Tristeza, mágoa, paixão, derrota, fuga, preocupação, raiva, desilusão, frustração… Foi então que tudo parou. Frustração. É isso! Caramba que sensação de frustração terrível esta que me consome, que me queima os intestinos num ácido galopante, que me prende os movimentos, que me desperta a necessidade de mandar o mundo à merda! Procuro na minha imaginação o prado verde e o lago a brilhar ao sol que costuma conseguir acalmar-me. Mas hoje as árvores estão queimadas, prontas a tornarem-se nas cinzas do esquecimento, o lago evaporou-se e transformou-se em tempestade e o meu vestido leve de criança alegre arde em labaredas que me fazem gritar de dor. Uma dor atroz, uma dor fria, uma dor frustrante. “Foi para isto que estudei e trabalhei toda a vida…”, penso para mim própria. Solto um riso de escárnio perante esta ironia. Ora portanto, eu decidi sofrer? Parece que sim. Demónios que me perseguem, gárgulas que se riem de mim, noite de céu sem estrelas que não me deixa ver a luz do sol. Nem vale a pena gritar por socorro. Qual o sentido de pedir auxílio, quando fui eu que fiz o nó da minha própria forca? É ridículo. Emoções negativas estas, escolhi a dedo, sem querer, para o meu futuro, num passado onde não me atrevia a imaginar o presente. Oh raios e coriscos! Oh defecação ensanguentada que transborda deste cérebro desnutrido! Oh a puta que os pariu!

       “Tens que ser capaz de acordar e pensar: amanhã é um novo dia.” Que rico conselho. Amanhã é sempre um novo dia, quer eu queira quer não. “Sim, mas convém conseguires que esse novo dia seja um novo início e não a continuação do que sentiste ontem.” Inicialmente a frustração consumia-me, agora sinto, simplesmente, que não digo coisa com coisa. As palavras costumam ajudar-me. Hoje nem isso. Página em branco, já nem tu me serves para nada? Parece que tenho que me resignar a esta artimanha, a esta teia pegajosa que não me liberta e simplesmente esperar… esperar que passe… esperar que desapareça com o raiar do sol… ou, pelo menos, esperar que me consuma menos.

15/12/2016

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